UMA TRAGÉDIA - Meu nome é Johni

Meu nome é Johni
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UMA TRAGÉDIA

UMA TRAGÉDIA

Elisabeth Tenreiro, professora da Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, em São Paulo, morreu, na última segunda-feira, 27 de março, ao ser esfaqueada por um estudante de 13 anos.

            A frase acima soa absurda, eu sei. Mas a realidade não se cansa de absurdos.

            Assim como nos Estados Unidos, as escolas brasileiras têm sido um constante palco de absurdos. Nos últimos vinte e um anos, foram registrados vinte e dois ataques cometidos por estudantes ou ex-estudantes contra as instituições de ensino – média superior a um caso por ano.

            A estatística se apresenta ainda mais dramática quando observada a curva ascendente de sua recorrência: nos últimos oito meses, nove atentados.

            A periodicidade passou de seu ritmo anual para uma repetição mensal. Aliás, para uma média superior a um atentado por mês.

Lembro de quando víamos, com assombro e pela TV, o chão ensanguentado de alguma escola estadunidense e pensávamos ser aquela uma realidade distante da nossa. Não mais.

            Eu tenho certa dificuldade em metrificar tragédias. Como se a vida perdida, por ser uma ao invés de três ou quatro, abalasse menos ou tivesse menos direito a também ser reconhecida como tragédia. Por isso, evitarei dizer que ela seria maior não fosse a coragem e a ação das professoras Cínthia da Silva Barbosa e Sandra Pereira, que imobilizaram e desarmaram o assassino. Mas, ainda assim, não é o caso de esquecer que outras mais vidas poderiam ter sido igualmente ceifadas.

            Outras professoras. Outros professores. Funcionárias e funcionários. Estudantes. Crianças de onze, doze, treze anos.

            Dias antes, Elisabeth Tenreiro apartou uma briga entre o seu futuro assassino e um outro estudante, briga esta motivada por ofensas racistas que o primeiro dirigiu ao segundo. Não era a primeira vez que o agressor se envolvia em cenas de violência: além de colegas reportarem um comportamento característico nas redes sociais, em cujas postagens simulava ataques brutais e fazia o elogio de armas de fogo, o assassino havia sido recentemente transferido de escola por mostrar-se violento na relação com os demais colegas, professores e funcionários.

            Luana Tolentino, colunista da Carta Capital, está absolutamente correta quando afirma que o “assassinato da professora Elisabeth é reflexo de uma sociedade doente” e que, portanto, “precisamos (re)construir este País, erguer um novo pacto civilizatório, pautado no respeito e na valorização da vida”.

            Não tenho dúvida de que, junto ao assassino, todo este nosso modo de vida precisa ser responsabilizado pelo que se viu nos corredores da Thomazia Montoro. É preciso refundá-lo sobre outras bases. Urgentemente.

            Assustam-me, no entanto, propostas que vão na inteira contramão desta urgência. Armar docentes, por exemplo. Que o lobby da indústria armamentista é inescrupuloso, não imagino quem possa ter dúvidas. Que o fetiche em torno de revólveres e pistolas tem crescido vertiginosamente, idem. Mas, armar professoras e professores no exercício de suas profissões excede qualquer capacidade minha de lidar com os absurdos de nossa realidade.

            Uma arma não produz o desaparecimento da violência cotidiana. Pelo contrário: aponta insistentemente para a sua presença, ainda que velada. Não combate a sua existência; antes, procura apenas reprimi-la. Enseja, portanto, uma espiral de tensões. A violência apenas tende a escalonar cada vez mais.

            Ademais, que sociedade poderá nascer de uma escola que se arma? Digo: decerto, impossível ser uma menos doente daquela em que vivemos.

            A educação é uma utopia. A nossa aposta mais certa na construção paciente e paulatina de um mundo melhor. Um cenário em que ela se arma, porém, não é utópico. Édistópico.

            Sei que estas são propostas ainda incipientes, com pouca adesão. Mas, os últimos anos nos ensinaram (ou deveríamos ter aprendido) a não negligenciar o potencial de sedução de que os absurdos são dotados.

            Em todo caso, ganhando ou não aderências, o simples fato de esta proposta existir não é já uma tragédia?

Essa luta é de todos. Junte-se a nós!

A LUTA CONTINUA. JOHNI VIVE!

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

04/04/2023 | Autor: Comunidade Johni Raoni 

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