SAUDOSISMO DA CASA-GRANDE - Meu nome é Johni

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SAUDOSISMO DA CASA-GRANDE

SAUDOSISMO DA CASA-GRANDE

As redes sociais não cansam de confirmar a permanência das relações escravocratas no imaginário médio da população brasileira. Esta semana foi a vez de Adriana Sant’Anna, ex-bbb e agora influencer por intermédio da plataforma instagram, onde conta com cerca de 4.8 milhões de seguidores. Morando nos Estados Unidos, ela foi a público reclamar da dificuldade em contratar alguém para executar o trabalho doméstico. Mas, não este ou aquele trabalho e, sim, todo o trabalho: limpar, lavar, passar, cozinhar, cuidar das crianças, etc. Ou seja, o que Adriana procura é a imagem da empregada doméstica brasileira, aquela que, pelas condições miseráveis de vida em que existe, acumula funções em troca de um pagamento módico ao final do mês – trabalho este que constitui uma perversa atualização pós-escravocrata do lugar da mucama.

            [mas, este não é um texto sobre a Adriana Sant’Anna]

            Apesar da repercussão negativa que o vídeo obteve, com muitos seguidores denunciando a violência de tal declaração, não é possível inferir uma rejeição completa da sociedade brasileira a tais ideias. Pelo contrário: elas são relativamente comuns no nosso no dia a dia mais corriqueiro, sobretudo nos últimos anos, quando as empregadas domésticas conquistaram a garantia de ter assegurados os seus direitos básicos como trabalhadoras: salário mínimo, férias, 13º, remuneração à parte por hora-extra ou acúmulo de funções, se aceitarem trabalhar além do horário fixado ou em funções não acordadas e descritas em carteira. Isto é, quando conseguiram, enfim, ser reconhecidas como trabalhadoras à semelhança de quaisquer outros trabalhadores em nosso país.

            Presencio reclamações parecidas com essa em meu cotidiano, inclusive quando assumo a condição de professor. Não raro, alguém se sente autorizado a comentar comigo coisas do tipo, talvez supondo, pelo acidente de a minha pele ser branca, uma adesão à branquitude. “Essas empregadas agora tão cheias de direitos!”, dizem, com algum espanto e acento de desprezo, como se assumissem que aqueles corpos não pudessem ser assistidos pelos mesmos direitos que protegem trabalhadores de outras categorias. Ou, levando em consideração o fato de maioria esmagadora das empregadas domésticas ser composta de mulheres negras, que tais pessoas não pudessem ser assistidas pelos mesmos direitos que protegem os corpos brancos.

            O que está em jogo em falas como essas é um tipo bem específico de saudosismo, o qual remete a um tempo que ultrapassa a barreira do vivido por qualquer uma e um de nós. Não é apenas a saudade do tempo em que as empregadas domésticas ficavam à completa mercê das patroas e dos patrões, mas, estende-se para muito além de poucas décadas atrás: em última instância, trata-se de um saudosismo das relações assimétricas entre a casa-grande e a senzala. Revela, portanto, que, se a escravidão deixou de ser um regime oficial de trabalho no Brasil pelos idos de 1888 (ou, pelo menos, foi abolida nos termos da lei), ela permanece ainda hoje como força estruturante de um imaginário acerca das condições de trabalho a que corpos negros e, no caso estadunidense, latinos migrantes devem se sujeitar.

Eis a mentalidade média brasileira e o racismo estrutural que nos organiza como sociedade postos a nu, aos olhos de todos. No entanto, a branquitude continuará negando

Essa causa é de todos nós. Nos ajude, compartilhando e curtindo o nosso conteúdo.

A LUTA CONTINUA. JOHNI VIVE!

Imagem:  Jean-Baptiste Debret, Um jantar brasileiro (1927)

28/06/2021 | Autor: Comunidade Johni Raoni 

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