QUANTO VALE UM TRABALHADOR? - Meu nome é Johni

Meu nome é Johni
MENU
QUANTO VALE UM TRABALHADOR?

QUANTO VALE UM TRABALHADOR?

Tenho me perguntado sobre quanto vale um trabalhador.

            Não me refiro ao custo financeiro que uma empresa tem ao empregar alguém – salário, décimo-terceiro, férias, FGTS – ou ao demitir. Isso é coisa fácil de mensurar e qualquer contador é capaz de responder. Se duvidar, algum app resolve essa questão em poucos segundos.

            É que há coisas que não se acomodam bem em uma planilha de gastos. Sempre penso que uma pessoa se descobre claustrofóbica quando alocada naquele espaço, um retângulo menor dos que os menores cômodos de um hotel-cápsula de Tóquio. Não há portas ou janelas ali. Deve ser meio sem ar, inclusive. Provavelmente faça calor em demasia. Não me parece que o Excel seja um ambiente ventilado.

            Eu sei que, no estágio atual do capitalismo, pouco importa o romantismo peculiar que me faz ver uma pessoa, toda ela vida, antes de um número em meio a uma conta de somar, ou de diminuir. É demodê (talvez mais do que a própria palavra “demodê”) priorizar o que pulsa, o que deseja, o que sonha e o que vive, ao invés do que rende.

            Pergunto-me quanto vale essa pessoa antes de ela ser reduzida a um número qualquer. Quanto de dignidade. Quanto de respeito. Quanto de companheirismo. Sim, companheirismo, por que não?

            Pergunto-me essas coisas desconfiando que, na verdade, não são quantificáveis. Não consigo imaginar uma escala em que, de centímetro a centímetro, se passe da ausência completa ao máximo de dignidade ou respeito. Esses são termos que soam um tanto binários: não há gradação, apenas um ou outro polo. Ou se empresta dignidade a alguém, ou não. Ou se respeita alguém, ou não. Ou se é companheiro de alguém, ou não.

            Aliás, talvez eu devesse substituir a palavra “companheirismo” por “parceria”. Ou, pela expressão “vestir a camisa” – cobranças que, volta e meia, são direcionadas aos trabalhadores em seu ambiente de trabalho, cada vez mais tóxico, competitivo e precarizado. Doentio mesmo.

            Já não é o caso de se vender a força de trabalho 8 horas por dia, 40 por semana. É preciso que a empresa ocupe o espaço da casa, do celular, das redes, da intimidade. Que ocupe a vida. Em tempo integral, se possível.É isso o que significa “vestir a camisa” da empresa ou ser “parceiro”. Eufemismos pensado sob medida para tornar palatável e sedutora uma ação de drenagem da nossa força vital.

            Lembro do poema “Eu, etiqueta”, de Carlos Drummond de Andrade. As etiquetas das marcas de roupas e de outras coisas foram substituídas pelo logo da empresa: desfilamos publicidade gratuita.

            Mas, sejamos sinceros: não há parceria quando a via é de mão única. O nome real é bem menos bonito e soa tão desagradável aos ouvidos que caiu em desuso: exploração. Ou, se quisermos uma metáfora própria aos encontros interpessoais: relacionamento abusivo.

            É tarefa para os próximos anos a coordenação de uma pesquisa de abrangência nacional a respeito das condições de trabalho a que fomos expostos durante o período pandêmico, bem como acerca do desnível entre a saúde dos trabalhadores e os lucros obtidos pelas empresas – principalmente aquelas do ramo educacional, nas quais foi notória a precarização das condições de trabalho (demissão em massa de professores associada à superlotação das salas virtuais, que, não raro, contava com 150, 200 estudantes, tornando inviável o processo de ensino-aprendizagem).

            Fico pensando naquelas e naqueles que, ao longo da pandemia, compraram o discurso da empresa e acreditaram, porque o dom de se iludir faz parte da condição humana, que haveria reciprocidade. Muitos e muitas agora conhecem a face por sob a máscara: descartados sem nem um tapinha nas costas – aliás, quanto menos contato (humano) melhor para a lógica fria dos números empresariais.

            Aliás, esta mesma pesquisa que eu sugeri que se faça nos próximos anos deveria também quantificar as demissões e as circunstâncias destas demissões no pós-pandemia. Uma hipótese é que a Covid-19 produziu uma legião de pessoas desempregadas que, justamente pela condição frágil em que se encontram, topariam receber menos do que aquelas que não perderam os seus empregos durante a pandemia. Talvez, em virtude desse cenário, vejamos um processo intenso de substituição de mão-de-obra nos próximos meses e anos. Aliás, talvez já tenha começado.Afinal, onde eu vejo uma pessoa, uma existência, um corpo vivo e pulsante, a lógica do capital apenas vê números, tabelas, gráficos de rendimento e lucro.

            Essa causa é de todos nós. Nos ajude, compartilhando e curtindo o nosso conteúdo.

A LUTA CONTINUA. JOHNI VIVE!

Imagem:reprodução internet

10/04/2022 | Autor: Comunidade Johni Raoni 

O que você achou? Deixe seu Comentário