PORQUE CADA PERGUNTA TEM A SUA RESPOSTA - Meu nome é Johni

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PORQUE CADA PERGUNTA TEM A SUA RESPOSTA

PORQUE CADA PERGUNTA TEM A SUA RESPOSTA

Há poucos dias, um estudante desavisado do conteúdo assumidamente político de minhas intervenções em sala de aula, questionou: Por que insistir tanto em torno do tema das políticas de morte? Por que olhar tantas vezes, e sob tantos ângulos distintos, para as intolerâncias que organizam o regime de encontros entre diferenças em nosso mundo?

Coincidentemente – e talvez nada seja tão só coincidência –, naquele mesmo dia eu havia programado uma discussão sobre o primeiro episódio da série de documentários Guerras do Brasil.doc, disponível na plataforma de streaming Netflix. Intitulado “As guerras da conquista”, este filme de pouco mais de 25 minutos, discute o que é a experiência de ser um corpo indígena em um país que, desde sua fundação colonial, se organiza como território hostil às populações originárias das Américas. Por volta do minuto 15, a resposta à pergunta anteriormente feita pelo estudante. Ailton Krenak, importante liderança indígena e voz fundamental em nosso tempo, respondeu por mim. Olhando fixamente para a câmera e, por consequência, para quem o assiste instalado no conforto e na segurança de uma casa, Krenak comenta:

 

Nós estamos em guerra. Eu não sei por que você está me olhando com essa cara tão simpática. Nós estamos em guerra. O seu mundo e o meu mundo estão em guerra. Os nossos mundos estão todos em guerra. A falsificação ideológica que sugere que nós temos paz é pra gente continuar mantendo a coisa funcionando. Não tem paz em lugar nenhum. É guerra em todos os lugares, o tempo todo.

 

Nenhuma outra resposta poderia ser mais adequada.

Apesar de o mito fundador de nosso país informar qualidades edênicas, a sociedade brasileira se organiza em função do exato oposto: um modus operandi que, desde a Colônia, e alcançando incólume os nossos dias, subalterniza e viola a existência de um espectro amplo de corpos que não acontecem, ou não se se deixam enfeixar, em acordo ao padrão binário.masculino.cis.heteronormativo.branco.cristão.burguês.conservador. O Brasil mata mulheres por serem mulheres e não aceitarem viver sob o jugo de homens; indígenas por serem indígenas e lutarem por terras que lhes foram roubadas e modos de vida que lhes foram interditados; negrxs por serem negrxs e nunca terem se reduzido pacificamente às condições mais degradantes lhes impostas; LGBTQI+ por serem LGBTQI+ e darem vazão, no fluxo de seus corpos, aos desejos tão represados nos corpos daqueles que xs violentam; militantes sociais por serem militantes sociais e denunciarem que, enfim, há genocídios em processo.

Sim, nós estamos em guerra. E cada minuto de silêncio que cala diante deste cenário é, de um jeito ou de outro, cúmplice e agente legitimador das mortes que se enfileiram em estatísticas. Em meio ao silêncio, há manchas muitas de sangue. Por isso, devemos insistir em falar sobre as políticas de morte que nos organizam como nação. Por isso, devemos permanecer em luta contra as intolerâncias.

Por isso, este texto, como uma lembrança de nosso compromisso, a marcar o retorno das publicações periódicas deste blog.

 

 

                                                                                                                                                                                                                                                                                                  Comunidade Johni Raoni 

22/10/2019 | Autor: Comunidade Johni Raoni 

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