DECLARAÇÃO PÚBLICA DE INTENÇÃO DE VOTO - Meu nome é Johni

Meu nome é Johni
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DECLARAÇÃO PÚBLICA DE INTENÇÃO DE VOTO

DECLARAÇÃO PÚBLICA DE INTENÇÃO DE VOTO

Inicio esse texto poucos minutos antes de o relógio sinalizar os primeiros segundos do dia 15 de novembro de 2020, quando, em um cenário completamente atípico [e absurdo], voltaremos às urnas. Nesse ano, exerceremos o nosso direito em dar fé a novxs(?) prefeitxs e vereadrxs – ciclo quadrienal que sempre me empolgou mais pelo seu fator de proximidade com xscandidatxs, axs quais posso ter acesso sem a mediação televisiva, radiofônica ou virtual, e pelo fato de a cidade se apresentar, para mim, como uma referência muito mais concreta do que o estado ou o país: ela é, com efeito, o chão em que piso. Noutros tempos, talvez eu estivesse, nesse exato instante, engajado em alguma campanha: vestiria camisa, levantaria bandeira, emprestaria meu corpo às cores de um partido e ao nome de alguém. Mas, confesso já não ter essa disposição – e isso nada tem a ver com a pandemia em que estamos imersxs ao longo dos últimos meses e ainda agora, sem qualquer previsão séria de saída. Não se trata de nenhum sentimento de desesperança ou algo do tipo, muito menos de uma retórica (neo)liberal-personalista, responsável por reivindicar a possibilidade de candidaturas não filiadas a qualquer legenda – mesmo aquelas desprovidas de posicionamentos ideológicos marcados, servindo como breves casas de aluguel para pouco mais do que um fim de semana. Ainda distribuo, e com convicção digo que continuarei a fazê-lo, meus votos entre candidatxs do campo emancipatório [diria progressista, mas achei prudente evitar uma confusão possível com o partido que leva esse nome]. Na verdade, embora julgue sem dúvida necessária a manutenção dos poderes legislativo e executivo aderentes a uma lógica democrática encenada por candidatxs e partidos, já não é nesta organização do jogo político em que deposito a minha fé. Cada vez mais, eu tenho me deslocado para o fora dessas malhas. “Fora”, aqui, não significa uma completa exterioridade, mas forças que, não cooptadas pelo modo hegemônico [e pretensamente único] de fazer política, fazem política a partir dos modos singulares com que seus corpos se instauram no mundo. Esse “fora”, portanto, atravessa o jogo instituído, de modo que põe em evidência a superfície porosa da língua em que partidxs e candidatxs, evidentemente assessoradxs por profissionais especializadxs em vender imagens, sabem (re)produzir os seus discursos. Esse “fora” gera tensões não programadas e, portanto, não capturadas. É nessa emergência não cartografada, feita rizoma, em que aposto e é ela que não tem me deixado me abater, apesar de tudo. Como naquela canção do Gonzaguinha, um dos amores que trago no peito, eu ponho fé é na fé da moçada / que não foge da fera e enfrenta o leão: redes de mulheres [sobretudo, negras/pretase/ou trans] que, desde a afirmação política de seus corpos, desestruturam o patriarcado [cis-racista]; de corpos LGBTQIA+, que, desde a afirmação política de seus desejos, desnaturalizam a heteronormatividade; de povos subalternizados [indígenas, africanos e afro-diaspóricos, ciganos] que, desde a afirmação política da singularidade de suas epistémes e modos de existir, desocidentalizam o saber e a vida; de artistas que, desde a afirmação política de sua potência em transver, instauram palavras novas para dizer de um tempo que vem [lembro o escritor angolano Manuel Rui dizendo a mim: “é preciso escrever com palavras que ainda não existem…”]. O giro emancipatório não virá de dentro da estrutura, que é concebida para gestar a si mesma: ele só pode vir do “fora”, daquilo que é força de des-organização [e, desse modo, de criação de uma coisa outra]. É a pressão advinda desse fora que pode mobilizar o dentro, desde que sensível à escuta, a uma agenda emancipatória. É fundamental, então, que possamos chegar à segunda-feira, 16 de novembro, com prefeituras e câmaras de vereadorxs mais democráticas, mais plurais. Apenas assim, com outros corpos assumindo lugares de poder, poderemos movimentar a nossa sociedade mediante a escuta sensível dos atravessamentos propostos pelo fora. É esse o meu desejo nesse domingo. É nesse sentido que dou o meu voto.

A LUTA CONTINUA. JOHNI VIVE!
Foto: NELSON JR./ASCOM/TSE (BBC News Brasil)

15/11/2020 | Autor: Comunidade Johni Raoni 

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