A BRANQUITUDE ATACA OUTRA VEZ [QUE NOVIDADE!] - Meu nome é Johni

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A BRANQUITUDE ATACA OUTRA VEZ [QUE NOVIDADE!]

A BRANQUITUDE ATACA OUTRA VEZ [QUE NOVIDADE!]

Da última vez em que escrevi para este blog, argumentei que o engajamento antirracista, quando pensado a partir de corpos brancos, envolve, necessariamente, a desmontagem da branquitude, isto é, a ideologia que estabelece privilégios e hierarquias baseados na idealização do fenótipo branco como se este fosse dotado de algum valor. Ainda que correndo o risco da repetição, volto novamente ao tema.

            O jornalista Leandro Narloch, que ganhou fama e palco com o seu Guia politicamente incorreto da história do Brasil, livro que, como o próprio título indica, aposta na polêmica e no reacionarismo ao invés de o fazer na precisão histórica de suas afirmações, publicou, no dia 29 de setembro deste ano, em sua coluna no jornal Folha de São Paulo, o artigo “Luxo e riqueza das ‘sinhás pretas’ precisam inspirar o movimento negro”. Trata-se não apenas de um texto equivocado em sua leitura da história, como já é de costume em se tratando do autor, mas, de uma espantosa naturalização da violência inerente aos sistemas escravocrata e capitalista, sobretudo, de uma petulância absurda em querer determinar os modos políticos assumidos pelos movimentos negros.

            Houve reação, evidente. Muitos colunistas da própria Folha se levantaram contra a publicação e tensionaram o jornal. É caso, por exemplo, do professor de Direito Internacional e Direitos Humanos Thiago Amparo que, ainda no dia 29 de setembro, escreveu e publicou As sinhás pretas da Folha. Amparo, uma das vozes mais importantes a publicar semanalmente no periódico paulistano, além de desmontar o argumento levantado por Narloch, acusou o jornal de conivência com o racismo presente naquele texto, o que é justo e verdadeiro. André Santana, no artigo Falso elogio a ‘sinhás pretas’ busca tornar negros cúmplices da escravidão, publicado no UOL em 30 de setembro, inverte o jogo e, em lugar de aceitar a sugestão oferecida por Narloch, qual seja, a de se inspirar nas “sinhás pretas”, enquadra o colunista ao afirmar que “ao invés de se ocupar em contar histórias de gente negra, Narloch contribuiria muito mais se utilizasse seu prestigiado espaço dado pela imprensa para falar como os europeus e seus descendentes construíram mecanismos para impedir a prosperidade econômica dos negros e para manter os regimes de privilégios brancos até os dias de hoje”.

            Narloch, no entanto, dificilmente seguirá a sugestão encaminhada por André Santana. E não apenas por divergências no campo teórico. A verdade é que, a julgar pelo que ele escreve e pelo que já escreveu, o autor não tem qualquer interesse em engajar-se na luta antirracista. Isto porque o discurso formulado por ele é atravessado e comprometido com a manutenção da branquitude enquanto valor e norma social, além de força regulatória do dizer. Apenas isso justifica o fato daquele jornalista, um homem brancosem qualquer vivência junto à linha de frente do combate antirracista, alçar-se ao direito de deslegitimar os movimentos negros e, indo além, tentar pautar, ele próprio, uma agenda, uma cartilha, a ser obedientemente seguida. O que Narloch sugere é, em última instância, que o movimento negro deixe de ser uma força de contestação e passe a atuar como pilar de sustentação do racismo estrutural brasileiro.

            Quanto à Folha, a lógica do capital manterá Narloch como colunista – o que inclusive já foi confirmado pelo ombudsman do jornal, José Henrique Mariante, em texto publicado no dia 2 de outubro. Narloch rendeu polêmica e cliques. E isso, em tempos quando a coerência e a verdade pesam tão pouco, é o que é levado em consideração. A Folha se defende com o argumento de que o jornal se constitui como um espaço plural, abrangendo perspectivas de múltiplas tendências políticas. E eu, sinceramente, não vejo problema nisso, pelo contrário: o discurso em uníssono é que é o verdadeiro perigo. No entanto, há uma questão que estamos perdendo: o erro não é uma perspectiva de análise. A distorção histórica não é uma perspectiva de análise. O olhar comprometido com a branquitude não é uma perspectiva de análise. O ponto de vista a partir do qual se conservam imagens e estruturas racistas não é uma perspectiva de análise. São erros, distorções, vínculos com a branquitude, racismos. São formas de violência. E eu não consigo ver isso senão como um perigo, quiçá ainda maior que o discurso em uníssono.

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Imagem: Reprodução da internet

13/10/2021 | Autor: Comunidade Johni Raoni 

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