7 DE SETEMBRO DE 2021, DE BOLSONARO A SÉRGIO REIS - Meu nome é Johni

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7 DE SETEMBRO DE 2021, DE BOLSONARO A SÉRGIO REIS

7 DE SETEMBRO DE 2021, DE BOLSONARO A SÉRGIO REIS

A democracia brasileira, instituição historicamente muito frágil, está sob risco, tenho repetidamente insistido nos textos que escrevo para este blog. Anuncia-se para o próximo 7 de setembro uma manifestação pró-Bolsonaro em algumas capitais do Brasil, evento este que traz consigo uma agenda autoritária e, portanto, antidemocrática. Não é a primeira, decerto, mas o fato de não sê-la não pode implicar uma naturalização de seu perigo, de maneira a minorar os seus potenciais desdobramentos. Ela se situa em meio ao escalonamento das tensões entre o poder executivo federal e o judiciário fazendo coro à pauta de impeachment de ministros do STF que adotam posicionamentos não aderentes a Bolsonaro. Em paralelo, há o risco de tensões decorrentes da participação de policiais militares politicamente relacionados ao presidente, os quais constituem parte importante da militância bolsonarista. Embora os governadores estaduais tenham dado declarações acerca de inexistência deste risco, a tensão está no ar. Não se pode afastar completamente a possibilidade de ruptura institucional movimentada desde as polícias, até mesmo porque Bolsonaro tem, cada vez mais, adicionado pólvora ao redor de um incêndio que se alastra: sua aposta no caos social e, em resposta a ele, em um golpe parece cada vez mais nítida. Se isto irá ocorrer ou não, é impossível saber agora – afirmar algo seria arriscar um exercício de futurologia. No entanto, independentemente do que ocorrerá, é inegável que esta tem sido a sua aposta, afinal, ele sabe que, de outro modo, é pouco provável que haja escapatória: a reeleição, embora não possa ser de antemão dada como perdida, parece mais distante a cada dia e, com isso, cresce a chance de ele ser responsabilizado pela conduta errática [para dizer o mínimo] com que administrou [e administra] o combate à pandemia do coronavírus.

            Em meio a todo este cenário, o cantor Sérgio Reis enviou um arquivo de áudio em um app de mensagens em que comentava, eufórico, a manifestação agendada para o dia 7 de setembro, convocando quem o ouvia para estar lá. Em sua fala, ele reproduzia o mesmo teor antidemocrático e autoritário que se percebe no radicalismo bolsonarista que ganhou força no Brasil a partir de 2016, culminando na eleição do ex-capitão do exército para a presidência. As mesmas ameaças. Em meio à repercussão negativa de seu comentário, inclusive com o repúdio público manifestado por colegas que haviam emprestado suas vozes para o novo disco de Sérgio Reis e que cancelaram a participação, o artista tem afirmado se arrepender do áudio e das ameaças ao STF, mas não de suas posições – o que vem a ser um arrependimento absolutamente inútil, convenhamos. O erro continua inabalável, protegido, intocado, ao que parece – pois o autoritarismo é um erro, apenas os seus partidários discordam. Em todo caso, o cantor tem variado o tom, desde uma emulação chorosa de humildade, como tem se visto em algumas entrevistas, até a bravata farsesca de sua masculinidade – como se ser homem implicasse automaticamente algum valor. Em uma resposta dada à mídia, por exemplo, Sérgio Reis afirmou: “Eu não tenho medo de ser preso. Não sou frouxo. Não sou mulher. Cadeia é para homem”.O cantor parece esquecer – como, de resto, boa parte dos homens do Brasil – que, em um sistema patriarcal cis-gênero como o nosso, ser um homem cis não demanda coragem alguma, pelo contrário, é relativamente simples, uma vez que tudo está a seu favor. Coragem é substantivo feminino, convém lembrar.

            Infelizmente, os comentários de Sérgio Reis não são um evento isolado. Têm respaldo na boca de muitos brasileiros, alguns dos quais estarão junto às manifestações do dia sete. O pensamento retrógrado, autoritário e machista compõe parte significativa da gramática nacional, como tem sido demonstrado enfaticamente a cada novo dia.

A LUTA CONTINUA. JOHNI VIVE!

Imagem:  Reprodução da internet

27/08/2021 | Autor: Comunidade Johni Raoni 

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